O Feminismo liberta. E pra caralho!
- Escrito por: Sofia Belo
- 30 de out. de 2015
- 3 min de leitura

Pra ser sincera, eu realmente não lembro quando ou como foi o meu primeiro assédio. Na real, meu envolvimento com o feminismo aconteceu só a partir dos meus 18 anos e eu acho que é por isso que eu não tenho memória sobre meu primeiro assédio, porque até os meus 18 anos eu não tinha consciência do que era ser mulher e, pior, não tinha noção da mulher que eu era.
Na época eu era dessas que concordava com todo aquele discurso de que duas mulheres só podem ser inimigas e endossava essa baboseira falando que a maior parte dos meus amigos eram homens porque mulher é muito fresca. O que eu não sabia naquela época é que na verdade a maior parte dos meus amigos eram homens porque eu simplesmente me fechava para amizades com mulheres. E isso porque eu estava cercada de homens que só reproduziam esteriótipos machistas sobre as mulheres.
Só que chegou uma hora na minha vida que eu me toquei que eu era mulher e que tudo aquilo que eu falava sobre mulheres, falava sobre mim também. Eaí as piadas perderam a graça.
E quando as piadas perdem a graça parece que você ganha um sensor-aranha nas questões de gênero e, dali em diante, eu entrei num processo de reflexão profunda sobre como eu estava agindo até aquele momento e como eu queria agir a partir de agora. Essa minha experiência deixou ainda mais claro como o feminismo é apenas uma questão de observação.
Eu não passei por uma experiência traumática envolvendo assédio sexual pra abrir meus olhos pro feminismo, mas eu já estive em um relacionamento abusivo que deixou cicatrizeis e até algumas feridas abertas na minha autoestima e psicológico.
Eu não presenciei ou convivi com mulheres que foram vítimas de violência doméstica, mas eu cresci com uma mãe que abriu mão do diploma e carreira profissional pra cuidar de mim e dos meus irmãos. Eu cresci escutando essa minha mãe falar que era bom eu arranjar um marido rico pra me sustentar. Eu cresci um pouco mais e escutei essa mesma mulher falar que era bom eu me formar, ganhar meu próprio dinheiro e não depender de ninguém além de mim pra conquistar tudo que eu quero!
Eu cresci com uma das minhas avós trabalhando desde criança pra poder ir pro colégio porque o pai abandonou a família e a mãe não tinha renda pra sustentar as três filhas. Essa mesma avó consolidou uma empresa, uma familia e toda uma vida independente. Enquanto a minha outra avó frequentou um internato católico, teve o casamento arranjado aos 16 anos e a primeira filha aos 18.
Eu cresci e só depois de crescer que eu me toquei da magnitude dessas situações e histórias. Eu me toquei como eu me enxergava e enxergava as mulheres da minha família nessas situações. Eu me toquei de como eu enxergava os homens nessas situações. Eu me toquei de como eu reproduzia discursos que só prejudicavam a minha vivência e formação como mulher.
O feminismo foi um verdadeiro divisor de águas na minha vida. Ele fechou muitas portas e abriu outras mil. Ele me aproximou da minha mãe, da minha irmã e da minha família em geral, me aproximou das minhas amigas e de tantas outras amizades incríveis. Eu aprendi muita coisa desde que o feminismo entrou na minha vida e tenho certeza de que vou aprender muito mais. O feminismo pode até não ser perfeito, mas com certeza ele é maravilhoso porque, além de tantos outros motivos, ele me proporcionou conhecer a pessoa mais importante da minha vida: eu mesma!
E é essa experiência que eu desejo pra todas vocês <3
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Sofia Belo tem 22 anos, é estudante de Publicidade e Propaganda na PUC-Rio e uma das idealizadoras do projeto "Hoje eu quero voltar sozinha".
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