Solta a Voz, Myrla!
- hojeeuquerovoltars
- 13 de jan. de 2015
- 3 min de leitura

*Ilustração Nick Kobyluch
Eu nunca imaginei que isso fosse acontecer comigo um dia. Acho que todas as mulheres que sofrem algum tipo de abuso nunca acham que vai acontecer com elas, mas acontece... Infelizmente acontece. Eu estava em casa em uma das noites do Carvanal de 2012 sozinha no computador quando minha mãe e meu padrasto chegaram BASTANTE bêbados. Minha mãe logo deitou pra dormir e simplesmente apagou, nem meu cachorro que pulava nela conseguiu acordá-la. Eu continuei sentada no chão da sala com o notebook encostada de costas no sofá e o meu padrasto deitou no sofá. Do nada, repito... DO NADA, ele começou a alisar meu ombro e eu fiquei em choque. Em todos os anos que minha mãe tinha passado com ele – acredito que uns cinco ou seis – , ele nunca tinha encostado em mim ou qualquer coisa assim, nem mesmo bêbado. Então eu fiquei totalmente abobada sem entender o que estava acontecendo. Comecei a digitar em inglês pra minha amiga o que tava acontecendo e ela também se assustou. Se ele tivesse parado por aí, eu não teria ficado com tanto medo, mas ele começou a tentar enfiar a mão dentro da minha blusa, tentou apertar um dos meus seios e depois não satisfeito tentou enfiar a mão atrás no meu short. Eu comecei a chorar, levantei correndo, me enfiei no banheiro e botei a primeira roupa que eu achei. Saí tão desesperada de casa que acabei pegando o celular da minha mãe e nem me importei com como ela ia ficar quando acordasse no dia seguinte. Eu precisei ficar ligando pra amigos, esperando que alguém pudesse me ajudar a fugir de casa já que era de madrugada (e eu estava apavorada), e ninguém me ajudou de fato. Bom, eu acabei pegando o primeiro ônibus que vi passar – cheio de pessoas indo pra curtir e eu chorando desolada – e fui parar na casa da amiga com quem conversava na internet. Passei uma noite horrível, eu só sabia chorar. Tomei banho e senti um nojo absurdo de mim. Eu tive medo de denunciar, ele ficou ligando pra minha mãe dizendo que era mentira minha, ele chegou até a aparecer de carro na nossa rua! Nunca contei para o meu pai – apesar de ter contado no dia seguinte pra minha mãe e isso ter feito ela expulsar meu padrasto de casa -, acabei ficando tão traumatizada que não consigo sair na rua em determinados horários sozinha e tenho MUITO medo de homens desconhecidos. Hoje eu tenho síndrome do pânico, desconfio de qualquer pessoa que eu não conheça e quase não saio pra me divertir. Só vou a lugares “seguros” e na companhia do meu namorado, minha mãe ou do meu melhor amigo. Não saio sozinha, às vezes o medo me toma por completo e eu congelo no meio da rua.
Eu quero poder sair sozinha. Quero poder voltar sozinha. Não quero mais ter medo. EU QUERO RESPEITO. Eu queria ter tido força pra colocá-lo na cadeia, mas infelizmente não tive. Por favor, não sejam omissas... Isso é pior que qualquer coisa.
Myrla Carvalho tem 20 anos e quer voltar sozinha.
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