Solta a voz, Noelle!
- hojeeuquerovoltars
- 19 de dez. de 2014
- 2 min de leitura
"Sofri abuso sexual pelo filho do meu padrasto aos oito anos de idade e ouvi da avó dele que eu provocava, que filha de vagabunda, vagabunda era referindo-se à minha mãe solteira. Ainda carrego as marcas emocionais daquela experiência horrível. Passei muitos anos da minha adolescência acreditando ser mesmo uma vagabunda, sem usar roupas justas ou decotadas, com medo do que poderiam pensar de mim. Até crescer, amadurecer e entender que esse problema não é meu. Ainda hoje me sinto incomodada quando me arrumo um pouco mais, coloco uma calça justa ou um decote. Andar de metrô me causa pânico pois tenho a sensação de que qualquer um que encoste em mim, mesmo sem querer, seja um aproveitador. Cada gracinha no semáforo ao atravessar a rua, cada olhar nojento de um homem, cada cantada barata, fazem com que eu me sinta aquela menina de oito amos: desamparada, assustada e dolorida. A minha vida não se estagnou por isso porque eu nunca permiti; tive namorados, filho e uma vida dentro da normalidade, mas é uma vitória a cada dia. É deixar um pouquinho do passado e da mágoa para trás a cada dia. É olhar no espelho e acreditar que não sou propriedade de ninguém e nem indigna de afeto porque um babaca cometeu um erro grave com a minha vida. É desejar que cada menina não tenha que passar por isso. É lutar diariamente para que a minha condição de ser mulher seja respeitada e que todo homem escroto e criminoso nas suas atitudes machistas seja punido. Bem punido. Hoje eu quero voltar sozinha por mim mesma, mas no futuro, quero que minhas alunas e sobrinhas também voltem. Que possam escolher a roupa que usarão no dia movidas pela vontade e pela vaidade, não pelo medo de ser atacada por um babaca qualquer."
Noelle tem 30 anos e quer voltar sozinha.
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