Solta a voz, Karine!
- hojeeuquerovoltars
- 29 de nov. de 2014
- 2 min de leitura

*fotografia de Steve McCurray
"Eu nem sei por onde começar, porque só de lembrar da história já me bate uma raiva tremenda. Bem, como de costume, fui comemorar o aniversário de uma colega em uma boate no Centro do Rio. Porém, por causa de um imprevisto, tive que levar uma amiga minha até o ponto de ônibus, pois ela tinha que ir embora para casa (o que já não tá certo, porque ela não deveria sentir medo em ter que caminhar poucos metros até o ponto ou pegar um táxi sozinha depois da meia-noite. Posso dizer por ela que, com certeza, ela também queria poder voltar sozinha). Como eu estava com medo de voltar sozinha do ponto até a boate, pedi que outra amiga me acompanhasse. No meio do caminho, quando atravessamos a rua, um homem passou por trás de mim e passou a mão na minha bunda. Fiquei com tanta raiva que eu comecei a xingá-lo, mas ele fingiu que não era com ele e continuou andando. Não importou o quanto eu gritei perguntando se ele tava maluco e o chamando de abusado, ele continuou andando como se não fosse com ele. Na realidade, a vontade que tive foi de pular em cima dele e arrebentar a cara dele, mas nunca se sabe; a pessoa pode estar armada com uma faca ou com uma arma... Eu me senti muito impotente. Um rapaz até tentou entender a história - minha amiga me contou depois - para poder me ajudar, mas, se ela não tivesse me falado da presença dele, eu nem teria me lembrado. A raiva me cegou. Daí, decidi ir até a van mais próxima da Guarda Municipal para pedir ajuda. Perguntei ao guarda se eles poderiam agir ou fazer qualquer coisa, caso um cara passasse a mão na bunda de uma mulher da forma que aquele bicho fez comigo. Ele me respondeu que sim, me perguntou quem era o homem e, quando eu apontei, o guarda permaneceu parado. Ele não fez NADA. Ele apenas esperou que o cara sumisse na multidão. Agora o pior: quando eu perguntei a ele se ele não iria fazer algo, ele me olhou com uma cara de "É sério que você vai fazer tempestade em copo d'água por causa disso?" e me respondeu "Ah, você sabe como é, né, você está na Lapa." Com certeza ele só não usou o argumento da vestimenta, porque eu estava de calça. Acho que não preciso nem descrever a minha reação. Enquanto eu gritava com ele, minha voz embargava, porque a vontade que eu tive foi de sentar e chorar. Em qual ponto os guardas/policiais vão reagir? Não reagem quando as mulheres são assediadas verbalmente - alguns até se juntam ao assédio. Não reagem quando o cara passa a mão na bunda de uma mulher. QUANDO VÃO REAGIR? QUANDO VÃO TOMAR PROVIDÊNCIAS? QUANDO EU ESTIVER SENDO ESTUPRADA? Eu quero. Eu NECESSITO. Eu tenho DIREITO de voltar sozinha para casa."
Karine Lima tem 18 anos e quer voltar sozinha!
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