Solta a voz, Deborah!
- hojeeuquerovoltars
- 20 de nov. de 2014
- 2 min de leitura

"Essa história não envolve exatamente um assédio que aconteceu na rua, mesmo que eu passe por isso quase todos os dias. Lendo alguns depoimentos percebi o quanto o medo está presente nas nossas vidas, apenas por sermos mulheres. E essa história é sobre uma vez em que eu senti muito medo, numa idade em que não deveria nem pensar nesse tipo de medo. Eu tinha 9 anos (eu acho) e estava no colégio. Eu fui ao banheiro quando o recreio estava acabando, e saí apressada para não me atrasar para a sala de aula. Saindo do banheiro vi que chegava correndo um garoto da minha série que eu conhecia. Eu me afastava dele porque sabia que ele "gostava" de mim, e eu não sentia o mesmo. Ele me agarrou, envolvendo os dois braços em mim e entrelaçando as próprias mãos nas minhas costas, de forma que eu ficasse muito desconfortável, principalmente por estar muito próxima dele. Imediatamente tentei me soltar, e lembro dele dizer "só solto se você me der um beijo". Ouvindo isso eu senti a minha cabeça ficar gelada, entrando em pânico. Olhei para os lados, e o pátio estava vazio, pois todos já haviam voltado para a aula. A única coisa que eu conseguia fazer era virar a cabeça. Eu chorei, muito baixo, um "me solta", e ele riu. Riu. Um garoto de 9 anos segurou uma menina e riu do desespero dela. Me orgulho muito de depois disso ter conseguido dar um chute entre as pernas dele e sair correndo. Enquanto eu estava correndo lembro de sentir pena dele, de me preocupar se o chute tinha doído muito e se ele estava machucado. Não foi um abuso tão sério quanto tantas pessoas passam, mas o que me fez querer compartilhar isso é o fato de ter acontecido entre duas crianças. Precisamos mudar já a forma como ensinamos meninos a tratar meninas. Não é bonitinho segurar alguém e dizer que ele só vai ser solto com um beijinho. É repugnante."
Deborah tem 24 anos e quer voltar sozinha!
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