Solta a voz!
- hojeeuquerovoltars
- 8 de nov. de 2014
- 2 min de leitura

"Faço aulas na COPPEAD às terças e quartas feiras e moro na Vila Residencial da UFRJ. Não sei se vocês conhecem o itinerário dos ônibus internos (que provavelmente deixarão de funcionar em pouco tempo, diga-se de passagem!), mas não existe nenhuma rota que saia da COPPEAD em direção à Vila. Por outro lado, os locais ficam separados por uma distância bem próxima. Devido a isto, penso que caminhar até minha casa (10 min) seja melhor do que implorar carona ou pegar dois ônibus para dar a volta no Fundão (45 min). Também faço isso por exercício de autonomia, já que considero um absurdo me privar do direito de ir e vir por conta do medo que nos impõem através da violência contra a mulher. Tomo a precaução de sempre estar com meu celular pronto para me comunicar com a polícia, caso seja necessário (espero que não seja!), e na maior parte das vezes venho acompanhada também por colegas pelo caminho.
Ontem (30/10) fiz o mesmo trajeto, porém vim sozinha. Caminhei até a Vila sem maiores problemas, porém, já estando na rua da minha casa, um carro com funcionários da UFRJ pára na minha frente e cerca de três homens começam a dizer coisas ofensivas, de teor sexual e um tanto agressivas. Nós, mulheres, infelizmente somos expostas a esses tipos de constrangimento público e temos que engolir todo o furor e medo e seguir em frente, como se nada estivesse acontecendo. Me senti um pouco mais segura porque bem próximo de onde esta situação ocorreu, caminhavam dois policiais. Pensei em andar mais rápido e chegar perto deles e evitar qualquer tentativa do carro de me seguir. Porém, me surpreendi ao ver que os policiais se uniram aos funcionários na provocação, o que me trouxe um grande sentimento de impotência. Se algo pior tivesse acontecido (como se a ofensa já não fosse ruim o bastante), os policiais seriam negligentes? Se juntariam para "se aproveitar" dos frutos da violência? Certamente haverão pessoas que nada sabem sobre o feminismo que dirão que eu estou errada, novamente reproduzindo o discurso ofensivo de que a culpa é da vítima, ou que estou exagerando... Porém, só peço pra que as mesmas reflitam se banalizariam tanto a situação se fosse um homem a ter sua dignidade ferida sexualmente, seja por palavras ou atos. É óbvio que a resposta é negativa. Nenhum homem é vulnerável a investidas sexuais se o mesmo não as deseja (deseja REALMENTE, não de acordo com esses discursos de que vítimas de estupro e assédio de alguma forma manifestam interesse no agressor!!). Se em algum contexto isto ocorre, com certeza toda a coisa seria vista com grande alarde. Não foi a primeira vez que coisas como esta (e até piores) acontecem comigo na universidade. Achei mais relevante enviar este porque aconteceu há pouco tempo e mostra que nem a polícia está muito inclinada a defender as vítimas de assédio... Pior, são paradoxalmente criminosos também."
Esse é um relato anônimo de uma pessoa que quer voltar sozinha!
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