Solta a voz, Bruna!

Eu estou no ponto de ônibus na orla de Copacabana, debaixo do sol do meio-dia. Estou pronta pra ir pra faculdade, e nada está fora do normal. Tenho dois olhos, um nariz e uma boca. Tenho um corpo que me transporta de um lado para o outro. Tenho cabelo e, se não tivesse, ainda seria uma mulher perfeitamente normal. O simples fato de eu existir, nesse momento e nesse lugar, parece dar o direito de homens, todos os dias, no trajeto até o ponto de ônibus e na permanência nele, me tratarem como se eu não fosse nada. Como se eu estivesse ali pra servir a seus olhos e suas vontades. Como se um simples olhar de cima a baixo ou "que isso, hein" não me fossem agressivos somados às outras milhares de opiniões sobre a minha aparência que eu ainda vou ouvir de deconhecidos até o fim desse dia. Eu só quero existir. Existir sem estar sujeita a essa análise constante e agressiva que me foi imposta antes mesmo de eu me tornar mulher. Eu tenho 19 anos, e sofro assédio desde os 12. Não tenho ideia de como vou suportar uma vida inteira disso, mas sei que não vou suportar calada. Essa invasão precisa deixar de acontecer comigo e com toda mulher.

Hoje eu quero voltar sozinha, e falando bem alto.

Bruna Leandro tem 19 anos, é uma das idealizadoras do projeto e ela quer voltar sozinha.

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